Cultura compartilhada e formação de redes locais: a experiência do Tangolomango

Cultura compartilhada e formação de redes locais

Marina Vieira, jornalista, idealizadora e coordenadora do Tangolomango e presidente da organização O Instituto Projetos e Pesquisa
Ilana Strozenberg, antropóloga, professora e pesquisadora da Escola de Comunicação da UFRJ. Diretora acadêmica d’ O Instituto Projetos e Pesquisa e coordenadora editorial do fanzine do Tangolomango

Data da publicação | novembro 2009

Criado em 2002, o Tangolomango é um projeto pioneiro de tecnologia social de produção colaborativa. A partir de um conceito de cultura popular abrangente, que incorpora diferentes linguagens e estéticas, o Tangolomango promove o intercâmbio de saberes e práticas culturais, valorizando o diálogo como via de produção de novas ações e produtos. Seu nome, que designa uma brincadeira de roda popular em várias regiões do nordeste do país, foi escolhido por expressar o espírito do trabalho.

Baseado, desde seu início, em eventos presenciais, através de espetáculos anuais produzidos de forma compartilhada por diferentes grupos de música, artes cênicas e audiovisual, o projeto inicia em 2009 uma nova fase, com a criação de um portal na Internet. O Tangolomango na Rede promoverá articulação e ações colaborativas não apenas entre os que já integram o projeto, mas vai expandir essa comunidade, incorporando um número muito mais abrangente e diversificado de iniciativas.

A história do Tangolomango foi um processo de pensamento sequencial: cada evento fazia surgir as ideias que inspiravam o evento seguinte. Na primeira edição do evento, há oito anos, o Tangolomango reuniu grupos de comunidades periféricas do Rio de Janeiro para apresentar um painel de suas produções culturais e debater as possibilidades de sustentabilidade de suas ações. O grande gargalo para a inclusão social e cultural, apontado na ocasião, foi a dificuldade de comunicação entre os grupos.

Assim, no ano seguinte, buscando saídas para esse obstáculo, o Tangolomango reuniu projetos que discutiam especificamente os caminhos para a democratização da comunicação e os direitos de expressão das várias manifestações da cultura urbana. O resultado desse intercâmbio levou à conclusão de que o acesso às novas ferramentas de comunicação era um ponto vital para o processo de transformação social. Por isso, em 2004, o Tangolomango convocou grupos cujos trabalhos estavam antenados com a comunicação alternativa e buscavam novas formas de expressão através das quais pudessem veicular seus olhares sobre a realidade e, com isso, valorizar suas identidades culturais. Estiveram presentes naquele encontro projetos que, já naquela época, se apresentavam como lideranças nesse processo sociopolítico e cultural, como O Centro de Estudos e Ações Comunitárias da Maré – CEASM -, a Central Única das Favelas – CUFA -, e o Nós do Morro.

A abertura para iniciativas de outras regiões do país aconteceu a partir de 2005, quando grupos de outros estados do país passaram a participar dos encontros no Rio de Janeiro. A essa maior abrangência geográfica, entretanto, correspondeu uma nova concepção da noção de periferia. Antes muito associada a critérios sociológicos de exclusão, como áreas de população de baixa renda, a ideia de periferia adotada a partir desse momento nas ações do Tangolomango é associada a critérios relativos à comunicação, como menores condições de acesso à circulação do conhecimento e às formas de divulgação de produtos culturais. Essa mudança foi fundamental para a diversificação dos grupos e enriquecimento do intercâmbio promovido em rede. É nesse momento que o diálogo se intensifica e o trabalho passa a se concentrar nas propostas de generosidade intelectual, na criação coletiva e no compartilhamento da produção.

O deslocamento do Tangolomango para outras cidades do país – Fortaleza, Salvador e Recife - foi uma decorrência quase que natural desse processo. Foram, com isso, incorporados novos grupos mas também novos públicos, trazendo outros elementos para a dinâmica das trocas. Em 2008 foi dado um passo ainda mais largo, com a participação de projetos de diferentes países da América Latina.

Em todo esse percurso ficou evidente a importância dos eventos locais, presenciais, para a construção e solidificação das relações de conhecimento e diálogo entre as iniciativas culturais de cada região. Muitas vezes, por exemplo, grupos de áreas próximas - e até mesmo vizinhas - nunca haviam empreendido qualquer ação conjunta e, em alguns casos, sequer se conheciam. Os eventos e encontros realizados pelo Tangolomango, ao promover a troca e a produção compartilhada entre diferentes grupos, evidenciou, para os participantes, os benefícios de um fazer colaborativo, tanto do ponto de vista estético quanto prático, viabilizando e dando visibilidade ao trabalho de cada um e aos integrantes da comunidade.

Por outro lado, a partir de um dado momento, a ação local e os eventos presenciais passaram a ser insuficientes diante da expansão real e potencial da rede Tangolomango. Além disso, as políticas públicas do Ministério da Cultura, que disseminaram o acesso às novas tecnologias da comunicação, como a criação dos Pontos de Cultura, modificaram de forma radical o cenário da produção cultural no país. Hoje, o número e a diversidade dos grupos de produção cultural aumentou exponencialmente. Além disso, todos têm condições de divulgar seus trabalhos através da Internet.

Diante dessas duas constatações, a questão que se coloca hoje para o Tangolomango é como fazer a ponte entre ações e redes locais e o universo das redes virtuais.

É essa a proposta do projeto do Tangolomango em Rede, conjugando os encontros presenciais, fundamentais para o fortalecimento das identidades culturais locais, e as potencialidades de articulação do universo virtual. Numa ponta, fortalecem-se os conteúdos e a diversidade; na outra, promove-se o diálogo e a criação colaborativa. Na junção das duas, ampliam-se os vocabulários e estimulam-se novas formas de expressão.

O QUE ACONTECERÁ NA REDE TANGOLOMANGO

• Disseminação de informações sobre projetos culturais

• Informações sobre políticas públicas nas áreas de Cultura e Comunicação

• Salas de bate-papo com a presença de convidados especiais, artistas, ativistas e profissionais ligados à cultura digital;

• Blogs

• Fortalecimento da Comunidade Tangolomango nas redes sociais

• Pesquisas

• Agenda

• Repositório: textos, fotos, obras (artes), música e vídeos produzidos pelos grupos

• Repositório de projetos

RESULTADOS ALCANÇADOS

• 300 ONGS

• 4000 participantes

• 04 Seminários

Tangolomango - Cultura e Cidadania Museu da República (2002).

Encontro Debatendo Comunicação Cultura, Comunicação e Cidadania Arte SESC Flamengo (2004).

Software Livre na Cultura e na Comunicação Arte SESC Flamengo (2005).

A Cultura Além do Digital (2006)

• 07 Publicações

• 04 fanzines

• 03 Cadernos Temáticos

Tangolomango - Coordenação da publicação - Cadernos de Memória Cultural do Museu da República (2002).

Debatendo Comunicação Cultura, Comunicação e Cidadania - Coordenação da edição online apoiada pela Fundação Ford (2004).

Software Livre na Cultura e na Comunicação - Edição da publicação, distribuída gratuitamente dentro do FISL 7.0, de 19 a 22 de abril de 2006.

OUTROS EVENTOS

Criei, Tive Como! - Festival Multimídia de Cultura Livre – edições 2006 e 2007 - criação e produção do festival realizado dentro do Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre, com a realização de shows, mostras audiovisual e de arte eletrônica, estúdios de TV e rádio livres. Evento patrocinado pela Petrobras em 2006 e 2007.

Campus Party Brasil - Coordenação de palestras, shows, competições e oficinas das áreas de Criatividade e Música da Campus Party Brasil, encontro presencial das comunidades da Internet, Prédio da Bienal, São Paulo, 2008.

Semana Ginga Brasil - Em parceria com a PUC-Rio e patrocinado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, foram realizadas oficinas de conteúdo interativo para cerca de 300 jovens de projetos sociais em 15 cidades das cinco regiões do país (2007).

• 05 Mostras audiovisuais

Mostras de Vídeos Populares e TV Comunitárias / Filmes com Temática Popular - Museu da República, Castelinho do Flamengo, Casa França Brasil.

Mostra Tangolomango - mostra especial de filmes e vídeos com temática social realizada dentro do 25 Festival du Film d’Amiens como parte das atividades selecionadas pelo Ano do Brasil na França (2005).

• 01 curta-metragem

Eleições 2000 e sempre! - curta metragem realizado em produção compartilhada com os núcleos audiovisuais da CUFA (Central Única das Favelas), Nós do Cinema e Nós do Morro (2006).

• 04 exposições

Arte de Rua no Museu / Encontro de Grafiteiros - Museu da República 2003.

Território Livre - Castelinho do Flamengo – 2004.

Multiplicidades - Centro de Arquitetura e Urbanismo – 2005.

Integração Urbana - Estações do Metrô Rio: Siqueira Campos, Botafogo, Carioca, Central, Estácio, Irajá e Pavuna – 2006.

DESDOBRAMENTOS EM DESENVOLVIMENTO

• Ciranda de Mestres - Intercâmbio de mestres e jovens de projetos culturais populares.

• Tangolomanguinho - projeto de oficinas e intercâmbio com grupos infantis.

NA INTERNET

Site www.tangolomango.com.br

Blog http://tangolomango2008.wordpress.com

YouTube Tangolomango - Festival da Diversidade Cultural: http://br.youtube.com/watch?v=P8lfC51qXCY

Filme Eleições 2000 e Sempre! http://br.youtube.com/watch?v=l5Z_IkZeeWQ